A venda futura da safra de soja em Mato Grosso, principal produtor brasileiro, atingiu patamar recorde em 2012. Até setembro, 61,4% dos 24,1 milhões de toneladas do grão que serão colhidos em 2013 no estado já haviam sido comercializados.
Embora alguns agricultores já tenham começado a semear o solo, a maioria dos produtores rurais aguarda a chegada das chuvas para iniciar o plantio 2012/13. A safra promete ser a maior da história, 11,6% maior em área plantada e com aumento de 12,9% em produção.
O desempenho na venda antecipada da safra que ainda será colhida acompanha o ritmo de negócios da soja efetuados no Brasil, onde a comercialização futura passou para 46% na última semana, de acordo com a consultoria Céleres.
Segundo a empresa, houve aumento de 25 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado, com 29 pontos percentuais acima da média dos últimos cinco anos. A consultoria aponta safra de 78,1 milhões de toneladas de soja no Brasil, número um pouco inferior aos 81 milhões de toneladas projetados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
Segundo os dados da USDA, o Brasil assumirá o posto de principal produtor mundial da cultura, superando os Estados Unidos, onde são esperadas 71,6 milhões de toneladas. A participação de Mato Grosso no total da produção brasileira deve se manter estável, na casa de 30%, segundo avaliação de analistas de mercado.
Para especialistas, o fenômeno inédito das vendas antecipadas é reflexo do oportunismo gerado pela quebra da safra americana e das perdas na América Latina. A menor disponibilidade de produto inverteu o cenário de preços. Somente em Mato Grosso, a saca de 60 quilos acumula valorização de 80% entre janeiro e agosto.
Analista de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleber Noronha observa que em três meses - de março até maio - foram vendidos 43% da próxima safra de soja. Quem concretizou negócios nesta época aproveitou preços na faixa de R$ 46. Outros 18% foram negociados posteriormente em valores acima de R$ 50. "Em termos gerais, o produtor começou a vender a safra em valores baixos, mas os preços foram subindo [quando o mercado mudou]", disse ao G1.
Em Mato Grosso, a colheita de mais de 24,1 milhões de toneladas representa um acréscimo de aproximadamente 3 milhões de toneladas em relação ao número de 2011/12, quando foram colhidas 21,3 milhões de toneladas. Já o Brasil, cujo desempenho na última temporada foi 12% menor frente à safra 2010/11 (foram colhidas 66,3 milhões de toneladas de soja), a aposta é em uma recuperação. A maior parcela da oleaginosa colhida - em torno de 80% - será transformada em farelo. O restante vira óleo.
Efeitos no preço dos produtos
O secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho, ressalta que a elevação na safra nacional de soja contribuirá para equilibrar os estoques de farelo, favorecendo baixa nos preços do produto. Em 2012, os valores subiram exponencialmente em função da queda mundial na produção da oleaginosa. A concorrência pela soja em grão entre os compradores (nacionais ou internacionais), atrelada ao receio sobre a disponibilidade da matéria-prima, puxaram a alta.
"O impacto registrado em termos de preço foi quase que total no farelo. Com uma safra positiva [em 2012/13] a tendência é ceder o preço", disse. Já o preço do óleo também cresceu, mas em escala menor porque não tem somente na soja seu principal ingrediente de fabricação. "A concorrência para os óleos é maior e toda a alta que se vive foi muito forte para o farelo e bastante menor no óleo", completa o secretário da Abiove.
Segundo Trigueirinho, o grau adiantado de comercialização não influenciará nos preços do óleo de soja. Isto porque a operação visa capitalizar o produtor e não abrange a indústria.
Fechando negócios
A prática de comercializar a safra antes mesmo de ser colhida consiste em capitalizar o agricultor para aquisição dos insumos necessários ao plantio e também para formar caixa para a atividade. "Em um primeiro momento, pagam-se os custos de produção. Depois, faz-se o caixa para movimentar as operações na lavoura, tanto de plantio quanto de colheita”, explica o analista do Imea Cleber Noronha.
Produtor rural no médio norte de Mato Grosso, Laércio Pedro Lenz vai plantar na próxima safra 900 hectares de soja no município de Sorriso, distante 420 quilômetros de Cuiabá e principal produtor mundial da cultura. Pelo menos 50% da lavoura já foi vendida, por uma faixa de preço média de R$ 42.
Os negócios foram iniciados ainda em março, mas a velocidade surpreendeu até mesmo quem tem na atividade agrícola a fonte de subsistência. "Não se esperava o que aconteceu. Mas a comercialização do restante da safra vai depender do mercado, dos preços, da conversão, custos de produção. Será preciso avaliar", ressaltou o produtor.
A região de Sorriso faz parte do maior celeiro produtivo de grãos do Brasil. O Médio-Norte de Mato Grosso é destaque no quesito venda da próxima safra de soja, superando inclusive a média do estado. De acordo com o Imea, 65% de uma safra estimada em 9,3 milhões de toneladas já foram negociados.
No Nordeste – que em 2012/13 vai expandir em 25,9% área destinada à sojicultura – o comprometimento da safra chegou aos 63% de uma produção calculada em 3,6 milhões de toneladas. No Oeste, a relação é de 60,6% de 3 milhões de toneladas.
Riscos da comercialização futura
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro, o volume de negócios fechados no estado superou até mesmo o nível considerado ideal para a comercialização. "A comercialização não pode avançar em um nível perigoso uma vez que se houver algum problema vai entregar o que?", questiona o dirigente.
Em setembro de 2011, quando as vendas eram realizadas com foco na temporada agrícola 2011/12, a comercialização no estado alcançava 48%. De forma geral, 2012/13 representa um avanço de 13,4 pontos percentuais sobre o ano passado.
Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil, diz que o êxito nas operações vai depender do bom aproveitamento das oportunidades. "O produtor deve estar atento e realizar negócios com preços em patamares remuneradores nos próximos meses com a soja que ainda possui. Além disso, será possível antecipar negócios também para outra safra, o que permite ao produtor fixar custos e manter margens em caso eventual de queda de preços na próxima safra, que deverá ser maior que esta", frisou.
A previsão é que o Brasil exporte pelo menos 34 milhões de toneladas de soja na safra 2012/13. Na temporada passada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estimado era de 31,2 milhões de toneladas. Só Mato Grosso deve embarcar no próximo ano cerca de 12 milhões de toneladas.
Embora alguns agricultores já tenham começado a semear o solo, a maioria dos produtores rurais aguarda a chegada das chuvas para iniciar o plantio 2012/13. A safra promete ser a maior da história, 11,6% maior em área plantada e com aumento de 12,9% em produção.
O desempenho na venda antecipada da safra que ainda será colhida acompanha o ritmo de negócios da soja efetuados no Brasil, onde a comercialização futura passou para 46% na última semana, de acordo com a consultoria Céleres.
Segundo a empresa, houve aumento de 25 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano passado, com 29 pontos percentuais acima da média dos últimos cinco anos. A consultoria aponta safra de 78,1 milhões de toneladas de soja no Brasil, número um pouco inferior aos 81 milhões de toneladas projetados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).
Segundo os dados da USDA, o Brasil assumirá o posto de principal produtor mundial da cultura, superando os Estados Unidos, onde são esperadas 71,6 milhões de toneladas. A participação de Mato Grosso no total da produção brasileira deve se manter estável, na casa de 30%, segundo avaliação de analistas de mercado.
Para especialistas, o fenômeno inédito das vendas antecipadas é reflexo do oportunismo gerado pela quebra da safra americana e das perdas na América Latina. A menor disponibilidade de produto inverteu o cenário de preços. Somente em Mato Grosso, a saca de 60 quilos acumula valorização de 80% entre janeiro e agosto.
Analista de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleber Noronha observa que em três meses - de março até maio - foram vendidos 43% da próxima safra de soja. Quem concretizou negócios nesta época aproveitou preços na faixa de R$ 46. Outros 18% foram negociados posteriormente em valores acima de R$ 50. "Em termos gerais, o produtor começou a vender a safra em valores baixos, mas os preços foram subindo [quando o mercado mudou]", disse ao G1.
Em Mato Grosso, a colheita de mais de 24,1 milhões de toneladas representa um acréscimo de aproximadamente 3 milhões de toneladas em relação ao número de 2011/12, quando foram colhidas 21,3 milhões de toneladas. Já o Brasil, cujo desempenho na última temporada foi 12% menor frente à safra 2010/11 (foram colhidas 66,3 milhões de toneladas de soja), a aposta é em uma recuperação. A maior parcela da oleaginosa colhida - em torno de 80% - será transformada em farelo. O restante vira óleo.
Efeitos no preço dos produtos
O secretário-geral da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Fábio Trigueirinho, ressalta que a elevação na safra nacional de soja contribuirá para equilibrar os estoques de farelo, favorecendo baixa nos preços do produto. Em 2012, os valores subiram exponencialmente em função da queda mundial na produção da oleaginosa. A concorrência pela soja em grão entre os compradores (nacionais ou internacionais), atrelada ao receio sobre a disponibilidade da matéria-prima, puxaram a alta.
"O impacto registrado em termos de preço foi quase que total no farelo. Com uma safra positiva [em 2012/13] a tendência é ceder o preço", disse. Já o preço do óleo também cresceu, mas em escala menor porque não tem somente na soja seu principal ingrediente de fabricação. "A concorrência para os óleos é maior e toda a alta que se vive foi muito forte para o farelo e bastante menor no óleo", completa o secretário da Abiove.
Segundo Trigueirinho, o grau adiantado de comercialização não influenciará nos preços do óleo de soja. Isto porque a operação visa capitalizar o produtor e não abrange a indústria.
Fechando negócios
A prática de comercializar a safra antes mesmo de ser colhida consiste em capitalizar o agricultor para aquisição dos insumos necessários ao plantio e também para formar caixa para a atividade. "Em um primeiro momento, pagam-se os custos de produção. Depois, faz-se o caixa para movimentar as operações na lavoura, tanto de plantio quanto de colheita”, explica o analista do Imea Cleber Noronha.
Produtor rural no médio norte de Mato Grosso, Laércio Pedro Lenz vai plantar na próxima safra 900 hectares de soja no município de Sorriso, distante 420 quilômetros de Cuiabá e principal produtor mundial da cultura. Pelo menos 50% da lavoura já foi vendida, por uma faixa de preço média de R$ 42.
Os negócios foram iniciados ainda em março, mas a velocidade surpreendeu até mesmo quem tem na atividade agrícola a fonte de subsistência. "Não se esperava o que aconteceu. Mas a comercialização do restante da safra vai depender do mercado, dos preços, da conversão, custos de produção. Será preciso avaliar", ressaltou o produtor.
A região de Sorriso faz parte do maior celeiro produtivo de grãos do Brasil. O Médio-Norte de Mato Grosso é destaque no quesito venda da próxima safra de soja, superando inclusive a média do estado. De acordo com o Imea, 65% de uma safra estimada em 9,3 milhões de toneladas já foram negociados.
No Nordeste – que em 2012/13 vai expandir em 25,9% área destinada à sojicultura – o comprometimento da safra chegou aos 63% de uma produção calculada em 3,6 milhões de toneladas. No Oeste, a relação é de 60,6% de 3 milhões de toneladas.
Riscos da comercialização futura
Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), Carlos Fávaro, o volume de negócios fechados no estado superou até mesmo o nível considerado ideal para a comercialização. "A comercialização não pode avançar em um nível perigoso uma vez que se houver algum problema vai entregar o que?", questiona o dirigente.
Em setembro de 2011, quando as vendas eram realizadas com foco na temporada agrícola 2011/12, a comercialização no estado alcançava 48%. De forma geral, 2012/13 representa um avanço de 13,4 pontos percentuais sobre o ano passado.
Glauber Silveira, presidente da Aprosoja Brasil, diz que o êxito nas operações vai depender do bom aproveitamento das oportunidades. "O produtor deve estar atento e realizar negócios com preços em patamares remuneradores nos próximos meses com a soja que ainda possui. Além disso, será possível antecipar negócios também para outra safra, o que permite ao produtor fixar custos e manter margens em caso eventual de queda de preços na próxima safra, que deverá ser maior que esta", frisou.
A previsão é que o Brasil exporte pelo menos 34 milhões de toneladas de soja na safra 2012/13. Na temporada passada, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o estimado era de 31,2 milhões de toneladas. Só Mato Grosso deve embarcar no próximo ano cerca de 12 milhões de toneladas.